domingo, 2 de dezembro de 2012

Resiliência

Não me assustou a superioridade das batas brancas, o cheiro insuportável a esterilizado ou a dor.

Amedrontou-me a imprevisibilidade do desfecho, a impotência contra os desvarios de uma máquina/corpo/invólucro que me apetecia rejeitar e a vida a pairar, interrompida, presa num sinal amarelo  intermitente sem fim.

Doeu-me ser diferente, olhar a vida dos outros e nela não poder encaixar a minha, encarar o futuro minuto a minuto, dia a dia, e querer sorver tudo de um só trago.

Resisti. Aos 3 cancros,  aos dias e noites de desalento, à sensação de amputação (de uma parte de mim, de uma parte da vida) e e à permanente e cortante lucidez.

Procurei brechas de normalidade, frestas de luz em dias cinzentos, sentidos e momentos de felicidade.

Neste caminho de cerca de 12 anos desejei morrer, quis fugir e procurei esconder-me dentro de mim sempre que consegui.

Vi muito: meninos presos a máquinas quando deviam estar a brincar numa qualquer escola, pais sem esperança, famílias em suspenso, avós com peles curtidas pelo sol e vidas de dureza extrema a lutar por mais alguns dias.

Resisti. Tive sorte. 

E senti que os outros valem a pena, os laços nos fazem maiores e melhores, a maior luta é aquela que escolhemos travar e o amor é o maior milagre da vida.



segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Basta!

Basta!
A traição, o engano e a injustiça atingiram limites insuportáveis.
Este Governo não nos levará a lado nenhum, a não ser à bancarrota.
Não é de remendos que ele precisa, mas da extirpação total.

Não merecemos, não queremos e não precisamos de parecer bem. Longínquos ficaram estes tempos.
A aparência não nos pagará as contas nem nos aquecerá nas longas noites de inverno que se avizinham.

Tendo a lucidez de assumir o futuro como inquietantemente incerto e sombrio, angustia-me o presente. Inexoravelmente.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Desgoverno

Hoje apetece-me baixar os braços, esquecer que vivo numa selva governada por canibais e que a desilusão me traça o futuro, me corta a esperança e agrilhoa a vontade.
Hoje é hoje.
Amanhã é outro dia.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Tenho vergonha de quem governa o meu País, protegido em bolhas além e acima do mundo real onde vive gente com vidas desumanas e insuportáveis.
Àqueles importa-lhes unicamente projetar e aplicar fórmulas teóricas aparentemente perfeitas, suscetíveis de impressionar instâncias europeias, sociedades financeiras e um largo espetro de entidades empresariais (possíveis futuros empregadores). Quanto sangue, imolados e desesperados serão precisos para deter
este comboio rumo ao abismo?

A subserviência ao dinheiro é condenável em qualquer contexto.
A arrogância sem limites é injustificada.
Nunca transferi para o Governo o meu destino.
Não admitirei que me agrilhoem a pactos, programas de convergência ou acordos que não subscrevi nem aceitei.

Saí à rua e sairei sempre.
Não é suficiente, mas é um começo.

Lutarei pela justiça, pela liberdade e pela democracia, porque delas depende a minha vida.



sábado, 11 de agosto de 2012

O último dos "beatniks" da música


TOM WAITS.
Como mais ninguém transformou a voz no retrato sonoro de uma América arruinada, impiedosa e sem alento.
Não é fácil apontar o dedo, evidenciar o preto e branco na tela que nos querem impingir como colorida e, ainda assim, criar obras primas repletas de criatividade.
O trovador da decadência atribuiu papéis principais aos bêbados, às prostitutas, aos mendigos  - os excluídos das expetativas e do paradigma de sucesso esteriotipado.





Nas canções sempre procurou mostrar, ainda que de forma enigmática, o bêco sombrio e malcheiroso onde o pueril sonho americano se desmorona.

TOM WAITS lyrics - Face To The Highway


A voz rouca, densa e incontornável transporta-nos numa viagem semi embriagada, semi dormente até aos confins da América profunda com cheiro a whiskey entranhado até à medula.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Reset

Momentos há na vida das minhas coisas em que sinto urgência de parar, olhar para trás e recomeçar tudo de novo.
Penso assim conseguir alterar o percurso, trair o expectável e contornar os obstáculos em que, sucessivamente, vou tropeçando.
Talvez tudo não passe de uma construção mais ou menos elaborada, mais ou menos inexpugnável, que me impele a nunca, nunca parar.

Este blogue apareceu como um filho fora de tempo.
Aos poucos fui-lhe dando forma e moldando-o aos meus dias.
No final (antes do "intermezzo"), havia-se convertido em algo forçado, artificial, programado e pouco fiel ao que verdadeiramente queria. Era altura de parar, compreendi.

Pelo caminho aproximei-me de novos e velhos amigos, fiz um programa de rádio, dei de caras com a serenidade, encontrei o amor (improvável, inesperado e todos os dias reinventado) e dei conta de que só me dando me sentiria completa.

Um amigo - de todas as horas -, cheio de boas ideias e com um coração do tamanho do universo, deu-me uma ideia de fusão apelativa: um audio blogue que me permitiria falar e escrever sobre música.
Partilhei a ideia com o meu cúmplice e todos estão a torcer por mim.

Enquanto me equilibro na técnica e na autoconfiança, vou escrevinhando como se estivesse dedilhando sem sentido, mas por puro deleite.

Obrigada, meus queridos.

Welcome!