Curioso como o tempo, o espaço e as vivências nos moldam.
Sinto-me mais desempoeirada, solta, flexível e em sintonia com aquilo em que me tornei.
Nunca deixarei de ser curiosa, inquieta, crítica, exigente, perfeccionista e organizada.
Mas consigo levar a vida muito mais ao sabor de impulsos, de desejos momentâneos, longe da planificação, em parte castradora, de outros tempos.
Não raras vezes lanço desafios quase para ontem. Os meus amigos que o digam...
Porque a vida é para ser bebida com sofreguidão, com deleite, tendo ao longe o horizonte como meta, todos os dias deposto e reposto, acho.
Talvez ainda acredite no amor, no sonho de uma casita com jardinzinho à beira-mar, num S. Bernardo pachorrento e fiel amigo, num copo de vinho e num chocolate partilhados ao pôr-de-sol.
Nos momentos mais utópicos julgo ainda ser possível ser capa de revista, escrever para a UNCUT, tornar-me "groupie" e privar com lendas do rock and roll.
Sonhos com môfo, revisitados, "remasterizados", renovados.
Apesar de tudo, hoje sou feliz. Com o que tenho, com o que sinto, com o que vejo (medidas drásticas de contenção excluídas).
Em princípio de noite tempestuoso, só me apetece deixar embalar num clássico que tudo promete, ainda que em Casablanca...
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
"Forever young"
Começar a escrever deveria ser sentido como um acto de entrega, desabafo e cumplicidade com as palavras e o sentido que lhes vamos imprimindo. Não como algo de sofrido, nervoso e inquieto.
Por alguma razão, tenho sentido um meio-medo em começar. Socorri-me de dois "chocolate peppermint creams" na esperança de uma excitação induzida semi-atordoante.
Em conversa, hoje recordei o tempo da minha "olivetti", com teclado HCESAR "comme il faut" em que bati poemas avulsos, trabalhos para História, requerimentos diversos. Era muito, muito menos prático, mas tinha o seu quê de profissional, de literário, de escritor exilado.
Lembro-me de a receber de presente dos meus pais e de me achar quase emancipada por ser proprietária do bem móvel que me parecia mais valioso, ao tempo.
Não havia a fantástica tecla do "delete", impondo correcções de um tecnicismo nunca por mim alcançado, tinha que se ajustar a folha e os espaços, não havia segundas ou terceiras oportunidades na mesma folha. Falta de inspiração ou de coerência do discurso implicavam um folha amarrotada acompanhada de inegável sensação de desalento.
Ainda sou do tempo do papel químico, das folhas de 25 linhas, dos telefones pretos que chiavam, dos rádios pouco portáteis que pareciam saídos de uma sala inglesa da Grande Guerra e que em horas inusitadas apanhavam na onda média estações de países distantes, desconhecidos, mas estranhamente familiares quando ouvidos.
Lembro-me de só haver leite do dia e pão de ontem ao domingo, fraldas de pano e alfinetes-de-ama, televisão a preto e branco e telefonemas para o estrangeiro via Marconi.
Longe vão os tempos da apanha de amoras pós-piquenique, das meias brancas de renda e sapatos de verniz "de boneca" como acessório obrigatório na roupa de Domingo, das prendas de Natal descobertas antes do tempo, da candura e inocência dos 10 anos reflectida em perguntas seguidas de comprovação no dicionário como: "Mamã, o que é um homossexual?".
São esses detalhes e a inevitável comparação com os actuais que me fazem ver que ter (quase) 40 anos não é o mesmo que ter 20. O tempo passa e cada vez fica mais para trás e menos para a frente.
O mundo mudou. Tanto.
Eu também.
Por alguma razão, tenho sentido um meio-medo em começar. Socorri-me de dois "chocolate peppermint creams" na esperança de uma excitação induzida semi-atordoante.
Em conversa, hoje recordei o tempo da minha "olivetti", com teclado HCESAR "comme il faut" em que bati poemas avulsos, trabalhos para História, requerimentos diversos. Era muito, muito menos prático, mas tinha o seu quê de profissional, de literário, de escritor exilado.
Lembro-me de a receber de presente dos meus pais e de me achar quase emancipada por ser proprietária do bem móvel que me parecia mais valioso, ao tempo.
Não havia a fantástica tecla do "delete", impondo correcções de um tecnicismo nunca por mim alcançado, tinha que se ajustar a folha e os espaços, não havia segundas ou terceiras oportunidades na mesma folha. Falta de inspiração ou de coerência do discurso implicavam um folha amarrotada acompanhada de inegável sensação de desalento.
Ainda sou do tempo do papel químico, das folhas de 25 linhas, dos telefones pretos que chiavam, dos rádios pouco portáteis que pareciam saídos de uma sala inglesa da Grande Guerra e que em horas inusitadas apanhavam na onda média estações de países distantes, desconhecidos, mas estranhamente familiares quando ouvidos.
Lembro-me de só haver leite do dia e pão de ontem ao domingo, fraldas de pano e alfinetes-de-ama, televisão a preto e branco e telefonemas para o estrangeiro via Marconi.
Longe vão os tempos da apanha de amoras pós-piquenique, das meias brancas de renda e sapatos de verniz "de boneca" como acessório obrigatório na roupa de Domingo, das prendas de Natal descobertas antes do tempo, da candura e inocência dos 10 anos reflectida em perguntas seguidas de comprovação no dicionário como: "Mamã, o que é um homossexual?".
São esses detalhes e a inevitável comparação com os actuais que me fazem ver que ter (quase) 40 anos não é o mesmo que ter 20. O tempo passa e cada vez fica mais para trás e menos para a frente.
O mundo mudou. Tanto.
Eu também.
sábado, 20 de agosto de 2011
Sendo
Com o passar dos anos tenho-me vindo a tornar menos paciente, mais irascível, não amarga, mas um todo-nada intolerante.
Mais autêntica em alguns casos, demasiado exigente noutros, mau-feitio em muitos deles.
Verdade seja dita, mandar (ainda que não expressamente, mas de forma implícita inequívoca) pessoas para sítios impronunciáveis, por agora (porque ainda se impõe algum recato), tornou-se cada vez mais frequente.
A vida não me deu segundas oportunidades para poder ser re-educada, por que raio havia de as dar a quem se cruza comigo?
Se por acaso me tratam como se fosse invisível, ou como se tivessem que descer de um pedestal para me dirigir duas palavras, ou como se julgassem me conhecer melhor que a mim mesma, ou ainda como se tivesse acabado de aterrar na nave-mãe vinda de um planeta com valores, princípios e expectativas, santa paciência, que vão "bardamerda" (ups e disse:)).
Inabilidade minha para criar um "redondo vocábulo".
Pensei ser imune a maledicências, a deslealdades e às insignificâncias que pautam a vida. Puro engano meu.
Assumindo a condição humana, em toda a sua plenitude, para o bem e para o mal, ponho-me a jeito para tudo me acontecer, mas não para tudo aturar, certo?
Mais autêntica em alguns casos, demasiado exigente noutros, mau-feitio em muitos deles.
Verdade seja dita, mandar (ainda que não expressamente, mas de forma implícita inequívoca) pessoas para sítios impronunciáveis, por agora (porque ainda se impõe algum recato), tornou-se cada vez mais frequente.
A vida não me deu segundas oportunidades para poder ser re-educada, por que raio havia de as dar a quem se cruza comigo?
Se por acaso me tratam como se fosse invisível, ou como se tivessem que descer de um pedestal para me dirigir duas palavras, ou como se julgassem me conhecer melhor que a mim mesma, ou ainda como se tivesse acabado de aterrar na nave-mãe vinda de um planeta com valores, princípios e expectativas, santa paciência, que vão "bardamerda" (ups e disse:)).
Inabilidade minha para criar um "redondo vocábulo".
Pensei ser imune a maledicências, a deslealdades e às insignificâncias que pautam a vida. Puro engano meu.
Assumindo a condição humana, em toda a sua plenitude, para o bem e para o mal, ponho-me a jeito para tudo me acontecer, mas não para tudo aturar, certo?
domingo, 14 de agosto de 2011
sábado, 13 de agosto de 2011
Sempre que regresso de viagem assola-me uma sensação de tranquilidade associada à volta ao ninho, ao mesmo tempo que a vívida sensação de ter um espírito livre, ávido e que vagueia sem destino, caixinha de armazenamento de memórias.
Apesar de não dispor de muitos carimbos no passaporte, sei que por muito longe que se vá não se consegue fugir do que nos atormenta e que as grandes emoções e experiências da vida podem não ser proporcionais aos kilómetros que se percorre.
Lembro-me das vezes que fui "tocada", de forma incontornável, por várias pessoas e em diversas circunstâncias, sem sair de casa:
- Quando me questionou o afastamento um mês antes de morrer.
- Quando ele disse se ter apaixonado por outra pessoa, mas continuar a gostar de mim.
- Quando li ser uma guerreira de olhar doce.
- Quando ouvi na rua, sem introdução e sem desfecho, ter uns olhos lindos ( :) ai a vaidade...).
- Ou quando vibro ao som de peças magistrais como estas:
Apesar de não dispor de muitos carimbos no passaporte, sei que por muito longe que se vá não se consegue fugir do que nos atormenta e que as grandes emoções e experiências da vida podem não ser proporcionais aos kilómetros que se percorre.
Lembro-me das vezes que fui "tocada", de forma incontornável, por várias pessoas e em diversas circunstâncias, sem sair de casa:
- Quando me questionou o afastamento um mês antes de morrer.
- Quando ele disse se ter apaixonado por outra pessoa, mas continuar a gostar de mim.
- Quando li ser uma guerreira de olhar doce.
- Quando ouvi na rua, sem introdução e sem desfecho, ter uns olhos lindos ( :) ai a vaidade...).
- Ou quando vibro ao som de peças magistrais como estas:
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
Navegar, navegar
Queria navegar sem bússola e sem amarras. Ao sabor da corrente, dos ventos e marés. Pelo menos mais vezes do que as que permito a mim mesma.
Aprendi a acreditar que essas viagens – alucinadas, incontidas, desmedidas e incertas – conseguem elevar-me acima de mim e do mundo, iluminam-me o olhar e o sorriso e conduzem-me a destinos inimagináveis.
No resto do tempo, a planificação toma conta de mim, impondo-me posturas sem margem para erros ou segundas avaliações, “fugas em frente” sem tempo para hesitações.
Mais não sou que pedacinhos partidos e colados dentro de uma vida de escolhas difíceis e desestruturantes. Equilibro-me no “fio da navalha” e isso dá-me uma lucidez especialmente pungente sobre a fragilidade e sobre a autenticidade dos afectos.
Apesar de tudo continuo por aqui, à espera que a espera não seja em vão.
sábado, 6 de agosto de 2011
Ao meu pai
O meu pai foi o primeiro grande amor da minha vida.
Lembro-me de aparentar ser impenetrável, forte e intangível, de condenar a hipocrisia, a deslealdade e a menoridade e de ter tiradas irónicas e bem-humoradas imprevisíveis.
Pensava e sentia muito mais do que dizia ou mostrava. As emoções eram uma amálgama de sentimentos intensos e contraditórios, uma corrente contra a corrente, uma nortada que abanava alicerces, ainda que de forma imperceptível e indelével.
A tranquilidade, a implacabilidade e a segurança que demonstrava eram, muitas vezes, escudo de protecção contra a incerteza, a dúvida e a fragilidade que sentia, sei-o agora. Intimamente.
Recordo-me da nossa cumplicidade dentro do mundo de silêncios e de portas fechadas e janelas entreabertas que era o nosso.
No fim (que chegou cedo e depressa demais), a fúria de se libertar da dor, o medo, enfim assumido, do sofrimento, a revolta contra a inevitabilidade da vida - e da morte -, as promessas por cumprir e os desejos por satisfazer ditaram o momento da partida sem que eu lhe pudesse dizer adeus.
Acredito que esse não tenha sido o nosso fim, mas apenas o início de uma outra caminhada reinventada, partilhada, sem contornos ou limites.
Lamento não ter partilhado contigo as alegrias, os sucessos e as dores dos meus dois terços de vida sem ti. Sei que me compreenderias. Fui feita da tua massa, do teu molde e orgulho-me disso. Tanto...
Perdoas-me o percurso acidentado, a insensatez, a rebeldia, as regras reformuladas a cada instante, as vezes que segui em frente quando devia ter parado?
Perdoo-te me teres deixado para trás. A mim. A nós.
Fizeste tudo o que podias. Mais do que podias.
Encontro-te em capítulos da minha história, vejo o teu reflexo no espelho da minha alma, sinto-te perto quando perdida e ainda ecoam nos meus ouvidos o som da tua voz grave e doce.
Tenho saudades tuas, papá.
Vemo-nos por aí?
Lembro-me de aparentar ser impenetrável, forte e intangível, de condenar a hipocrisia, a deslealdade e a menoridade e de ter tiradas irónicas e bem-humoradas imprevisíveis.
Pensava e sentia muito mais do que dizia ou mostrava. As emoções eram uma amálgama de sentimentos intensos e contraditórios, uma corrente contra a corrente, uma nortada que abanava alicerces, ainda que de forma imperceptível e indelével.
A tranquilidade, a implacabilidade e a segurança que demonstrava eram, muitas vezes, escudo de protecção contra a incerteza, a dúvida e a fragilidade que sentia, sei-o agora. Intimamente.
Recordo-me da nossa cumplicidade dentro do mundo de silêncios e de portas fechadas e janelas entreabertas que era o nosso.
No fim (que chegou cedo e depressa demais), a fúria de se libertar da dor, o medo, enfim assumido, do sofrimento, a revolta contra a inevitabilidade da vida - e da morte -, as promessas por cumprir e os desejos por satisfazer ditaram o momento da partida sem que eu lhe pudesse dizer adeus.
Acredito que esse não tenha sido o nosso fim, mas apenas o início de uma outra caminhada reinventada, partilhada, sem contornos ou limites.
Lamento não ter partilhado contigo as alegrias, os sucessos e as dores dos meus dois terços de vida sem ti. Sei que me compreenderias. Fui feita da tua massa, do teu molde e orgulho-me disso. Tanto...
Perdoas-me o percurso acidentado, a insensatez, a rebeldia, as regras reformuladas a cada instante, as vezes que segui em frente quando devia ter parado?
Perdoo-te me teres deixado para trás. A mim. A nós.
Fizeste tudo o que podias. Mais do que podias.
Encontro-te em capítulos da minha história, vejo o teu reflexo no espelho da minha alma, sinto-te perto quando perdida e ainda ecoam nos meus ouvidos o som da tua voz grave e doce.
Tenho saudades tuas, papá.
Vemo-nos por aí?
Recordações
Por entre a nostalgia do passado, novas formas tomam movimento e novas cores outro brilho.
Atlanta dos Stone Temple Pilots ficou como marca improvável de um passado tumultuoso, mas infinitamente memorável.
Atlanta dos Stone Temple Pilots ficou como marca improvável de um passado tumultuoso, mas infinitamente memorável.
(Des)amores
Ele disse: "Amo-te!".
E ela acreditou. Julgou aquele ser o último homem da sua vida, o fim da sua busca, o sentido e o norte que amiúde lhe faltavam.
Àquele amor sem tempo, sem lugar e sem limites, que avançava quando tudo ameaçava parar e ruir, ela entregou-se, agarrando-o como um ramo a uma árvore.
Naquele tempo, desconhecia tudo ser modificável. Não sabia poder a dor de amar demais transformá-la em fragmentos estilhaçados de um ser, ser possível sentir-se perdida dentro de si mesma, imaginar-se só depois de ter sido parte de um todo.
Recorda-se, agora, dos abraços apertados, dos sussurros partilhados, das viagens sem princípio nem fim.
Ela disse-me: "O amor pode ser grandioso. E devastador. Nunca te percas a ti mesma.".
E ela acreditou. Julgou aquele ser o último homem da sua vida, o fim da sua busca, o sentido e o norte que amiúde lhe faltavam.
Àquele amor sem tempo, sem lugar e sem limites, que avançava quando tudo ameaçava parar e ruir, ela entregou-se, agarrando-o como um ramo a uma árvore.
Naquele tempo, desconhecia tudo ser modificável. Não sabia poder a dor de amar demais transformá-la em fragmentos estilhaçados de um ser, ser possível sentir-se perdida dentro de si mesma, imaginar-se só depois de ter sido parte de um todo.
Recorda-se, agora, dos abraços apertados, dos sussurros partilhados, das viagens sem princípio nem fim.
Ela disse-me: "O amor pode ser grandioso. E devastador. Nunca te percas a ti mesma.".
sexta-feira, 5 de agosto de 2011
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
"Mainstream out"
Nos tempos idos de Abril de 2009 vi, com um brilho nos olhos e a sensação de que pairava acima do mundo, um mail que tinha escrito e enviado numa soalheira e promissora manhã de domingo primaveril publicado como "carta do mês" na BLITZ.
Ainda que a história não tenha tido continuação (continuo à espera do prémio prometido associado à qualificação do mail), talvez porque insusceptível de ter - num mundo pequenino, nepotista e elitista como o nosso -, o lançamento de novos álbuns neste ano de 2011 pelos artistas de então parece-me motivo suficiente para re-publicar o que então escrevi, sem prejuízo de poder ser considerado, e desde já assumido, um exercício de auto-reconhcimento.
Assim:
«BON IVER surpreendeu-me pela simplicidade grandiosa, pela subtil ruptura com o som e as expectativas "mainstream", pela beleza tocante das suas melodias intangíveis, por me forçar a encontrar novos caminhos para a intensidade.
É um acto de coragem criar (música, telas, palavras) para nós próprios, despojados de recursos estilísticos, de meios exteriores, alheios às tendências do mercado e às pressões das produtoras, Justin Vernon fê-lo.
FLEET FOXES seduziram-me. De uma forma absolutamente inesperada arrebataram-me, ousaram tornar a harmomia de vozes na pedra de toque do álbum mais imprevisível de 2008, deixando como herança uma música sem tempo, fora deste tempo. E que bom foi descobri-los e mostrá-los a tantas, tantas pessoas.
Afinal há lugar para todos. Para os "cool", para os bravos e duros do "heavy", para os (pop)ulares, para os que arrancam "riffs" a uma guitarra como um filho a um ventre, para os que fazerm da sua independência e diferença imagem de marca e para os outros - os "out", os ensimesmados, os sensíveis e incompreendidos, os bem-comportados e "clean", os desajustados (lembro-me de SIGUR RÓS e de muitos, muitos outros).
A música tornou-se para mim um estado de espírito, tão íntima quanto uma emoção ou um pensamento, considerando, por isso, louvável o trabalho de quem me abre as portas da alma a novas sensações.»
Há actos inconsequentes, únicos e irrepetíveis que valem a pena e que continuam a fazer sentido não obstante não os conseguirmos reproduzir. Talvez se revelem mais preciosos por isso mesmo, não é?
http://youtu.be/GhDnyPsQsB0
http://youtu.be/3XZWdGKc4n8
Ainda que a história não tenha tido continuação (continuo à espera do prémio prometido associado à qualificação do mail), talvez porque insusceptível de ter - num mundo pequenino, nepotista e elitista como o nosso -, o lançamento de novos álbuns neste ano de 2011 pelos artistas de então parece-me motivo suficiente para re-publicar o que então escrevi, sem prejuízo de poder ser considerado, e desde já assumido, um exercício de auto-reconhcimento.
Assim:
«BON IVER surpreendeu-me pela simplicidade grandiosa, pela subtil ruptura com o som e as expectativas "mainstream", pela beleza tocante das suas melodias intangíveis, por me forçar a encontrar novos caminhos para a intensidade.
É um acto de coragem criar (música, telas, palavras) para nós próprios, despojados de recursos estilísticos, de meios exteriores, alheios às tendências do mercado e às pressões das produtoras, Justin Vernon fê-lo.
FLEET FOXES seduziram-me. De uma forma absolutamente inesperada arrebataram-me, ousaram tornar a harmomia de vozes na pedra de toque do álbum mais imprevisível de 2008, deixando como herança uma música sem tempo, fora deste tempo. E que bom foi descobri-los e mostrá-los a tantas, tantas pessoas.
Afinal há lugar para todos. Para os "cool", para os bravos e duros do "heavy", para os (pop)ulares, para os que arrancam "riffs" a uma guitarra como um filho a um ventre, para os que fazerm da sua independência e diferença imagem de marca e para os outros - os "out", os ensimesmados, os sensíveis e incompreendidos, os bem-comportados e "clean", os desajustados (lembro-me de SIGUR RÓS e de muitos, muitos outros).
A música tornou-se para mim um estado de espírito, tão íntima quanto uma emoção ou um pensamento, considerando, por isso, louvável o trabalho de quem me abre as portas da alma a novas sensações.»
Há actos inconsequentes, únicos e irrepetíveis que valem a pena e que continuam a fazer sentido não obstante não os conseguirmos reproduzir. Talvez se revelem mais preciosos por isso mesmo, não é?
http://youtu.be/GhDnyPsQsB0
http://youtu.be/3XZWdGKc4n8
terça-feira, 2 de agosto de 2011
Quando não se consegue deixar de sentir
«- Vocês disseram que a cabeleira postiça era bonita. Mas parece cocó com um elástico à volta.
...
- Eu sou feio- diz Herman para a almofada.
A mãe inclina-se lentamente sobre ele.
- O que disseste?
- Eu sou feio! Eu sou feio!
- Não digas essas coisas. Ninguém é feio.
- Então eu sou ninguém.»
HERMAN, Lars Saabye Christensen
...
- Eu sou feio- diz Herman para a almofada.
A mãe inclina-se lentamente sobre ele.
- O que disseste?
- Eu sou feio! Eu sou feio!
- Não digas essas coisas. Ninguém é feio.
- Então eu sou ninguém.»
HERMAN, Lars Saabye Christensen
segunda-feira, 1 de agosto de 2011
Pr'aqueles
Se pudesse escolher, decididamente quereria por perto gajos (muitos) bons, bonitos e baratos. 3 em 1. Com tudo e em proporções idênticas: beleza e inteligência, elegância e carisma, charme e romantismo. Competência e ternura.
Porque passar a vida a desculpar aquele e aqueloutro por não ser exactamente uma cópia fidedigna do homem dos meus sonhos e tentar perceber traumas, medos e aflições, aos meus olhos, francamente menores, não está com nada.
Resolvam-se, decidam-se e, pelo amor de Deus, cresçam.
Se quisesse um puto mimado, procuraria-o numa escola secundária (e esse teria abdominais à altura de qualquer desafio e penteado "à Justin Bieber" à prova de rajadas de vento forte).
Não ser grande coisa e ainda por cima ser uma besta é mais do que uma mulher de bom-senso consegue aguentar.
Poupem-me a imbecilidades, a desculpas esfarrapadas e a atitudes de mau-gosto.
Não estou em saldo, nunca serei segunda ou terceira escolha de ninguém e, sim, antes só do que mal acompanhada.
Porque passar a vida a desculpar aquele e aqueloutro por não ser exactamente uma cópia fidedigna do homem dos meus sonhos e tentar perceber traumas, medos e aflições, aos meus olhos, francamente menores, não está com nada.
Resolvam-se, decidam-se e, pelo amor de Deus, cresçam.
Se quisesse um puto mimado, procuraria-o numa escola secundária (e esse teria abdominais à altura de qualquer desafio e penteado "à Justin Bieber" à prova de rajadas de vento forte).
Não ser grande coisa e ainda por cima ser uma besta é mais do que uma mulher de bom-senso consegue aguentar.
Poupem-me a imbecilidades, a desculpas esfarrapadas e a atitudes de mau-gosto.
Não estou em saldo, nunca serei segunda ou terceira escolha de ninguém e, sim, antes só do que mal acompanhada.
"Helplessness blues"
O temperamento tempestuoso, imprevisível, guerreiro e rebelde advém do mar que me corre nas veias a par do sangue. Desse mar que prende, constrange e impõe limites, de que amiúde quis fugir, mas que a sempre desejo voltar, como se dele dependessem a força e a alma que transporto.
Apesar das certezas sobre as minhas origens, sinto-me vezes demais descontextualizada, mulher sem rumo e fora de tempo, contrariada e insatisfeita.
Talvez porque me devesse ter dedicado à escrita de tramas que contassem as minhas outras histórias: as invisíveis, as imaginadas, as desejadas e encaradas como apropriadas.
Aí, saberia de antemão a deixa e a cena seguintes. Não me desiludiria, não sofreria com os enviezamentos e as respostas enigmáticas que tudo e nada pretendem dizer.
Carreira a seguir, portanto. Numa vida alternativa. E depois de esgotada a hipótese intelectualmente superior e incomparavelmente mais exigente, e seguramente muito melhor remunerada, de me converter numa "miúda de programa de luxo":).
Valha-me a harmonia, a perfeição de determinadas melodias que me surpreendem e encantam. Enquanto houver objectos/sujeitos de admiração, há esperança. Para mim, pelo menos.
http://youtu.be/KyP0DACgdgc
http://youtu.be/z9lrVZdaluk
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