quinta-feira, 4 de agosto de 2011

"Mainstream out"

Nos tempos idos de Abril de 2009 vi, com um brilho nos olhos e a sensação de que pairava acima do mundo, um mail que tinha escrito e enviado numa soalheira e promissora manhã de domingo primaveril publicado como "carta do mês" na BLITZ.

Ainda que a história não tenha tido continuação (continuo à espera do prémio prometido associado à qualificação do mail), talvez porque insusceptível de ter  - num mundo pequenino, nepotista e elitista como o nosso -, o lançamento de novos álbuns neste ano de 2011 pelos artistas de então parece-me motivo suficiente para re-publicar o que então escrevi, sem prejuízo de poder ser considerado, e desde já assumido, um exercício de auto-reconhcimento.

Assim:

«BON IVER surpreendeu-me pela simplicidade grandiosa, pela subtil ruptura com o som e as expectativas "mainstream", pela beleza tocante das suas melodias intangíveis, por me forçar a encontrar novos caminhos para a intensidade.
É um acto de coragem criar (música, telas, palavras) para nós próprios, despojados de recursos estilísticos, de meios exteriores, alheios às tendências do mercado e às pressões das produtoras, Justin Vernon fê-lo.

FLEET FOXES seduziram-me. De uma forma absolutamente inesperada arrebataram-me, ousaram tornar a harmomia de vozes na pedra de toque do álbum mais imprevisível de 2008, deixando como herança uma música sem tempo, fora deste tempo. E que bom foi descobri-los e mostrá-los a tantas, tantas pessoas.

Afinal há lugar para todos. Para os "cool", para os bravos e duros do "heavy", para os (pop)ulares, para os que arrancam "riffs" a uma guitarra como um filho a um ventre, para os que fazerm da sua independência e diferença imagem de marca e para os outros - os "out", os ensimesmados, os sensíveis e incompreendidos, os bem-comportados e "clean", os desajustados (lembro-me de SIGUR RÓS e de muitos, muitos outros).

A música tornou-se para mim um estado de espírito, tão íntima quanto uma emoção ou um pensamento, considerando, por isso, louvável o trabalho de quem me abre as portas da alma a novas sensações.»


Há actos inconsequentes, únicos e irrepetíveis que valem a pena e que continuam a fazer sentido não obstante não os conseguirmos reproduzir. Talvez se revelem mais preciosos por isso mesmo, não é?

http://youtu.be/GhDnyPsQsB0
http://youtu.be/3XZWdGKc4n8

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