quinta-feira, 25 de agosto de 2011

"Forever young"

Começar a escrever deveria ser sentido como um acto de entrega, desabafo e cumplicidade com as palavras e o sentido que lhes vamos imprimindo. Não como algo de sofrido, nervoso e inquieto.
Por alguma razão, tenho sentido um meio-medo em começar. Socorri-me de dois "chocolate peppermint creams" na esperança de uma excitação induzida semi-atordoante.

Em conversa, hoje recordei o tempo da minha "olivetti", com teclado HCESAR "comme il faut" em que bati poemas avulsos, trabalhos para História, requerimentos diversos. Era muito, muito menos prático, mas tinha o seu quê de profissional, de literário, de escritor exilado.
Lembro-me de a receber de presente dos meus pais e de me achar quase emancipada por ser proprietária do bem móvel que me parecia mais valioso, ao tempo.

Não havia a fantástica tecla do "delete", impondo correcções de um tecnicismo nunca por mim alcançado, tinha que se ajustar a folha e os espaços, não havia segundas ou terceiras oportunidades na mesma folha. Falta de inspiração ou de coerência do discurso implicavam um folha amarrotada acompanhada de inegável sensação de desalento.

Ainda sou do tempo do papel químico, das folhas de 25 linhas, dos telefones pretos que chiavam, dos rádios pouco portáteis que pareciam saídos de uma sala inglesa da Grande Guerra e que em horas inusitadas apanhavam na onda média estações de países distantes, desconhecidos, mas estranhamente familiares quando ouvidos.
Lembro-me de só haver leite do dia e pão de ontem ao domingo, fraldas de pano e alfinetes-de-ama, televisão a preto e branco e telefonemas para o estrangeiro via Marconi.

Longe vão os tempos da apanha de amoras pós-piquenique, das meias brancas de renda e sapatos de verniz "de boneca" como acessório obrigatório na roupa de Domingo, das prendas de Natal descobertas antes do tempo, da candura e inocência dos 10 anos reflectida em perguntas seguidas de comprovação no dicionário como: "Mamã, o que é um homossexual?".

São esses detalhes e a inevitável comparação com os actuais que me fazem ver que ter (quase) 40 anos não é o mesmo que ter 20. O tempo passa e cada vez fica mais para trás e menos para a frente.
O mundo mudou. Tanto.
Eu também.


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